Eu Não Acredito Em Você

 

– Solta ele, Justin. – meu pai gritou se desesperando enquanto segurava o meu braço com toda força que podia tentando me puxar, mas parecia que eu estava possuído por alguma coisa que mantinha minhas mãos no pescoço do Ryan.

– O que aconteceu com a Lorena, Ryan? – perguntei mais uma vez aos berros vendo seu rosto ficando vermelho e suas mãos segurando minhas mãos com força tentando me impedir até que ele tomou uma força maior que a minha e me empurrou pra trás recuperando o fôlego.

– Eu não sei, porra! – gritou nervoso enquanto levava suas mãos até o pescoço e massageava.

– Filho, calma. – minha mãe se aproximou e eu sentia meu sangue quente percorrendo por todo o meu corpo. Fechei a mão em punho encarando todos ali.

– Calma caralho nenhum, cadê a Lorena? – perguntei mais vez vendo que todos estavam evitando me falar a verdade.

 

Aqueles olhares indicavam o pior. Até Jazmyn estava contra mim não querendo abrir a boca para me dizer a verdade.

 

– Ela fugiu. – Ryan disse sem expressão com sua cara ainda vermelha.

– Ela o que? – perguntei sem acreditar. – Ela não pode ter fugido! Por que ela fugiria? – gritei sentindo o desespero tomar conta.

– Justin, senta. – meu pai disse tocando meu ombro e eu me senti meio tonto como se tudo aquilo fosse apenas um sonho. Odiava me sentir assim. Odiava perder o controle das coisas ao meu redor.

– Não vou sentar. Só quero saber onde Lorena está. – falei tentando manter a pouca calma que me restava.

 

Todos se olharam sem saber o que fazer, como se não tivessem respostas pra aquilo, como se não tivesse solução, como se não tivesse jeito.

 

– Porra, vocês estão surdos? – gritei fechando o punho e Ryan se aproximou um pouco receoso enquanto minha mãe e Jazmyn choravam e meu pai me olhava com piedade.

– Justin, eu coloquei todo mundo atrás dela, eu mesmo procurei por ela, mas ela sumiu do mapa. – comecei Ryan a dizer como se se desculpasse.

– Como ela sumiu do mapa, Ryan? Eu mandei você ir busca-la. – esbravejei colocando o dedo em sua cara.

– E quando eu cheguei lá na casa, só o Chaz estava lá e não quis me dizer onde ela tinha ido. – falou confuso.

– E por que você não obrigou ele a te dizer porra? – gritei sentindo as veias do meu pescoço quase se estourarem.

– Porque ele parecia tão preocupado quanto eu! – gritou.

– Ela veio aqui buscar as crianças. – disse minha mãe se mentendo com a voz engasgada. – Ela veio aqui e levou eles, deve ter sido nessa hora. – disse mantendo seu olhar a encarar o nada.

– Por que você não foi atrás dela seu imbecil? – gritei segurando a camisa do Ryan.

– Porque foi nesse período de tempo em que eu fui até a casa do Chaz e voltei. Eu não ia imaginar que ela ia vir aqui levar Chuck e Alice embora. – disse se livrando das minhas mãos.

– Não, vocês só podem estar de brincadeira com a minha cara. – falei passando a mão no rosto e sentindo o suor.

– Justin, todo mundo está preocupado, todo mundo está sem saber o que fazer. – disse Ryan.

– Não, eu estou sem saber o que fazer porque eu nem ao menos estava sabendo disso. Era isso que vocês dois estavam escondendo. – gritei.

– Filho, se nós contássemos você poderia... – disse minha mãe preocupada se levantando e se aproximando, mas eu a cortei.

– Não interessa! Vocês tinham que ter me contado! – gritei e ela se assustou se afastando.

– Perder a cabeça não vai adiantar nada, Justin. – meu pai falou firme vendo o estado da minha mãe ao se afastar de mim.

– Vocês são uns bando de traidores! – gritei. – Ryan, dá próxima vez que você quiser me esconder alguma coisa, certifique-se que você vai resolver antes de eu ficar sabendo, porque isso não adianta nada! – esbravejei indo pra sua direção e meu pai me segurou pelos braços. – Vocês tinham que ter me contado isso, porra! – gritei me soltando dos braços do meu pai.

 

Todos se silenciaram e eu bufei alto saindo de casa voltando pro meu carro. Aquilo só podia ser uma brincadeira, uma brincadeira de péssimo gosto. Como? Como o mundo podia estar caindo outra vez ao meu redor? Eu não tinha um minuto de paz!

 

– Justin! – ouvi a voz do Ryan me chamando quando eu já estava próximo do meu carro, mas não parei. – Espera, você tem que saber de uma coisa. – falou meio vacilante e eu me virei sem paciência já esperando o pior.

– Fala. – falei sério.

 

 

Ele respirou fundo e se aproximou.

 

– Ela sabe da Cindy. – falou por fim.

– Como? Impossível. – desdenhei.

– O Chaz contou pra ela.

– E como o Chaz sabe disso, Ryan? – gritei sentindo a raiva se apossar mais e mais do meu corpo.

– Ele invadiu sua casa e deve ter escutado eu e sua mãe conversando. – falou receoso.

 

Ri sem humor algum levando as mãos até a cintura.

 

– Como ele entrou aqui? – perguntei num tom debochado, mas eu estava apenas tentando controlar a fera que estava pedindo pra saltar de dentro de mim. Aquilo ficava cada segundo pior.

– Uns dos caras disse que ele tentou entrar pelo portão, mas eles barraram, então ele pulou o muro. – disse dando de ombros.

– Como ele pulou e muro e ninguém viu, Ryan? Porra eu fico um dia fora de casa e você não pode controlar esses idiotas direito? – gritei sentindo minha cabeça latejar.

– Justin, eu não sei direito o que aconteceu, cara. Você já parou pra pensar que você esconde tudo de todo mundo e de repente as coisas acontecem e pega geral de surpresa? – disse alterado.

– Do que você está falando? – perguntei impaciente.

– Do que eu estou falando? Um mês atrás você só era pai de Chuck e Alice, ontem você estava fazer um transplante de medula pra uma filha que ninguém sabia que existia. Você esconde essas merdas e não prepara ninguém. – falou completamente desorientado.

– Ryan, eu também sou pego de surpresa, porra!

– Só que a Lorena não quis saber se essa criança tinha 10 anos, 5 anos, 3 anos ou se era recém nascida. Não ia passar pela cabeça dela que a Kimberly já tinha uma filha sua, porra! Com certeza o Chaz escutou a informação completa e deve ter passado apenas metade da informação pra ela, ou não... vai saber. – disse alterado.

– O que você queria que eu fizesse? Estávamos nos resolvendo, não dava pra contar isso do nada como se fosse uma coisa simples. – esbravejei.

– Era uma coisa parcialmente simples antes, agora que não é mais. – gritou.

– Eu não ia imaginar que essa porra toda estava acontecendo, caralho!

– Você nunca imagina! O mal do malandro é achar que só ele é esperto!

 

Revirei os olhos quase me convencendo de que eu estava errado, mas não. Tudo aquilo era culpa do idiota do Chaz. Ah, mas se eu pego ele agora eu juro que eu mato, chega dessa merda de não gostar de matar, não gostar de sangue. Se a situação fossse matar Chaz, eu já estava considerando a ideia de gostar de matar. Se eu encontrasse com ele agora na minha frente, eu juro que teria prazer em arrancar sua vida.

 

– Ela não deve ter ido muito longe. – falei em um tom mais calmo.

– Eu fiz o que pude. – falou dando de ombros. – Eu coloquei o mundo atrás dela ontem a noite, cada um foi pra um canto e ninguém achou porra nenhuma. Eu arrombei a casa do Chaz e não achei nada, nenhum vestígio, nenhuma anotação, nada!

– Ela não pode ter levado meus filhos de mim, ela sabe que eles não tem nada a ver com as nossas brigas. – falei nervoso.

– É, mas a sua mãe disse que ela chegou aqui ontem feito um furacão dizendo que era sempre a última a saber de tudo, que não aguentava mais ser enganada e tudo mais. – disse implicante. – E aí senhor fodão que gosta de resolver as coisas sozinho, o que você vai fazer agora? – concluiu cruzando os braços no peito.

 

Encarei o nada enquanto ele falava. Ele estava certo, mas tudo acontece na minha vida feito um caminhão descarregando areia em cima de mim, mal dá tempo de respirar, mal dá tempo de me esquivar daquilo, mal da tempo de processar na minha mente o que está acontecendo. Eu sabia que eu ia ter que contar a verdade pra Lorena, mas não imaginei que ela pudesse saber antes de eu contar.

 

– Eu vou atrás dela. – disse por fim entrando no carro.

– Aonde? Já rodamos tudo, tem mais de 100 cabeças rondando toda a região e até agora ninguém me informou nada.

– Vai comigo ou vai ficar aí? – falei o ignorando já dentro do carro com a janela aberta e a mão na chave pronto pra girar.

 

Ryan estalou a língua no céu da boca e por fim deu a volta no carro sentando no banco do carona.

 

– Tô morgado, cara, não preguei o olho. – reclamou. – Eu procurei em cada galpão que você já me levou um dia. Tem homens na fronteira verificando os carros que passam, não consigo rastrear o carro do Chaz. Eu tô preocupado com a essa porra! – disse apoiando a cabeça no encosto do banco.

– Eu vou onde eu tenho certeza que sabem onde ela está. – falei sério já atravessando o portão da casa.

 

Ele me olhou por um instante e já entendeu tudo.

 

– Não sei que vício é esse que você tem de enfrentar o pai da Lorena. – reclamou.

– Porque ele é um prepotente da porra que me trata como moleque desde quando me viu pela primeira vez e se Lorena fosse procurar alguém pra ajudar ela nessa fuga, com certeza seria ele. Aquele filho da puta nunca gostou de mim e faria de tudo pra manter ela longe de mim.

– E você acha mesmo que se ele souber de alguma coisa ele vai te falar? Acorda, ô. – falou irritado.

 

Curvei meu corpo me aproximando do porta-luvas e Ryan apenas analisava meus movimentos um pouco confuso, mas logo apertei o botão fazendo a portinha abrir e lá dentro brilhava o cano da minha arma.

 

– Pode apostar que ele vai me falar pra onde ela foi. – falei com um sorriso convencido olhando pro Ryan.

– Você tá maluco, porra?

– Qual é, só vai ser um susto. – falei me divertindo com aquilo.

– Um susto que pode matar o velho.

– Foda-se. Na hora de me encher de soco ele é forte, né? – reclamei pegando a estrada pra casa da Lorena.

– Acho que você está levando tudo na brincadeira e nem percebeu que a parada é séria. – disse.

– Estou tentando manter a cabeça no lugar pra não fazer merda, mas pode ter certeza que a chapa vai esquentar se eu não achar ela. – falei fechando a cara.

 

Pisei no acelerador ouvindo os pneus cantarem no atrito. Não conseguia pensar direito. Se existe uma coisa que me irrita na Lorena é essa mania de agir sem pensar, de ser impulsiva. Nunca espera pra saber a verdade de mim. Apenas pega a informação que tem e faz um estrago na vida sem querer me ouvir. Claro que eu tinha minha parcela de culpa. Eu traí, bati, enforquei, mas qual é. Chaz não era confiável. Se hoje sou o que sou, se hoje me tornei tudo o que eu não queria era graças a essa vadia que não consegue perceber isso. Minha vida pode estar arrombada ao meio, mas eu conseguia aceita-la assim se ela estivesse ao meu lado, mas ela não estava. Eu dava a volta ao mundo para agradá-la, pra ser o mais correto que eu pudesse, mas ela sempre preferia não confiar em mim. Soquei o volante só de pensar em como eu explicaria tudo pra ela. Aquilo já me cansava mentalmente, imagina com palavras.

Parei o carro em frente a casa dos pais da Lorena. Peguei a arma no porta luvas colocando-a na cintura e saí batendo a porta. Logo em seguida ouvi a porta do lado do Ryan sendo fechada também e em segundos ele estava ao meu lado. Andei até o portão e apertei o interfone descansando o meu dedo ali.

 

– Fala você. – falei sério pro Ryan.

– Quem é? – a voz do pai da Lorena ecoou do som estridente do interfone e eu fechei o punho já sentindo ódio.

– É o Ryan. – falou meio cagão.

– Já estou indo. – disse o pai da Lorena depois de suspirar alto.

– Isso vai dar merda, porra. – sibilou Ryan perto do meu ouvido.

– Entra no carro, tem insufilme. Ele não vai te ver. – falei impaciente sentando no capô do carro.

– Entrar no carro pra quê, cara? – perguntou irritado.

– Entra logo, caralho. – gritei e ele me obedeceu enquanto reclamava alguma coisa baixo demais pros meus ouvidos escutarem.

 

Quinze segundos depois já pude ver que aquele idiota se aproximava. Um sorriso debochado brotou dos seus lábios quando ele me viu. Estava na cara que ele já sabia que Lorena tinha ido embora e sabia exatamente por isso que eu estava ali. Acendeu um cigarro despreocupado enquanto se aproximava de mim. Encarei aquela cena enrijecendo o maxilar.

 

 

– Ora, ora. Achei que fosse o Ryan, mas a surpresa foi melhor do que o esperado. – falou debochado logo em seguida tragando seu cigarro.

– Eu não diria que foi uma surpresa melhor que o esperado. – falei sério me pondo em pé.

– E por que não? Só de ver essa sua cara com a testa franzida se perguntando onde está Lorena já me deixa bastante feliz.

 

Fechei o punho sentindo a raiva me impulsionar para frente. Eu só queria matar aquele cara!

 

– Onde ela está? – perguntei entre os dentes.

– Não sei, mas se eu soubesse eu também não falaria. – deu de ombros.

 

Num movimento rápido peguei a arma da cintura, destravei e apontei para ele que levantou as mãos como rendição e deixou o cigarro cair de sua boca.

 

– Não sabia que um moleque sabia mexer com objetos desse tipo. – disse ainda debochado.

– Quer que eu teste? – perguntei acompanhando o seu tom. – Anda! Me fala onde está a Lorena. – gritei.

– Eu não sei, já disse. – disse sério. – Ela apenas passou aqui pra pedir dinheiro, eu perguntei porque e ela não quis me explicar, apenas disse que queria distancia de você e de toda sua família, então nem precisei ouvir o resto. – deu de ombros ainda superior, mas suas mãos ainda estavam em ato de rendição.

– Eu não acredito em você. – cuspi as palavras com a arma ainda mirada pra sua direção.

– Você tem razão. – sorriu debochado. – Não acredite em mim mesmo.

 

Abaixei a arma mirando na sua perna e apertei o gatilho ouvindo seu grito alto e forte e logo em seguida seu corpo curvado caindo ao chão.

 

– Seu filho da puta! – gritou.

– Onde Lorena está? – perguntei pausadamente mais uma vez sentindo meu corpo ficar quente em ódio.

– Eu não sei, porra. Arrrrrrrrrrrrrrgh. – falou reclamando de dor.

 

Me abaixei ficando em sua direção e encarei seu rosto. O suor pingava de sua testa e seus olhos me encaravam com ódio de volta.

 

– Eu vou te denunciar pra polícia, seu filho da puta. – gritou.

– Vamos ver se você vai ter tempo. – desdenhei lhe dando uma coronhada e seu corpo caiu desmaiado no chão.

 

Na mesma hora Ryan saiu do carro batendo a porta e se aproximando de mim.

 

– Você tá maluco, Justin? Caralho, se nos veem aqui...

– Cala a boca e me ajuda e a arrastar esse velho para o porta-malas. – falei sério guardando a arma na cintura.

– Não vou matar o pai da Lorena, cara! – gritou.

– Eu não vou matar ele, caralho. Pega logo essa merda. – gritei com ódio pegando uma perna enquanto o Ryan pegava outra e arrastamos até o porta-malas.

 

Pegamos o corpo dele os dois juntos e jogamos la dentro. Ryan fazia tudo com uma expressão de que não queria estar fazendo aquilo, mas é lógico, não era a mulher dele que estava desaparecida com seus dois filhos.

 

– Vamos. – falei fechando o porta-malas e entrando no carro.

– O que você vai fazer? – perguntou Ryan já dentro do carro.

– Fala menos e executa mais, Ryan. – falei ligando o carro e tomando a partida.

Tópico: Eu Não Acredito Em Você

quero lorena e justin de volta

marii | 20/09/2013

quando eu finalmente achava q td ia se encaixar acontece isso! se a lorena demorar muito pra aparecer vai ficar chato

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