Fall

 

POV Justin

 

Assim que contei tudo que eu havia feito, Lorena simplesmente se calou e ficou estática, gélida e sem expressão em cima da cama. O único movimento que seu corpo fazia era o da respiração. Sem falar mais nada ela levantou depois de alguns minutos e passou o resto da madrugada arrumando suas coisas dentro das malas enquanto eu tentava falar com ela, mas ela parecia impenetrável.

 

– Não encosta em mim.! – ela disse com a voz fraca fechando os olhos assim que toquei seu braço obrigando-a me olhar.

 

Seu rosto estava inchado e vermelho, as lágrimas caíam sem ao menos ela piscar. Me afastei vendo meu mundo cair, vendo meu mundo ir embora. Que merda eu havia feito com a porra da minha vida? Ela estava apenas tentando se manter forte por causa dos nossos filhos e estava se recusando a surtar. Senti a parede atrás de mim e me arrastei nela até no chão colocando a mão na cabeça. Deixei as lágrimas descerem, foda-se. Eu estava destruído, Lorena estava me deixando, estava escapando de minhas mãos e eu nem ao menos podia fazer algo, pois a culpa era toda e completa minha. Vi quando ela pegou o celular e digitou algo, parecia uma mensagem e estava enviando a alguém.

 

– Por favor, Lorena. – implorei entre os soluções sem encará-la. – Vamos conversar.

 

Ela não me respondia era como se eu não estivesse ali e eu ao menos nem tinha forças pra impedi-la de ir embora, mas quando a vi fechando os armários, suspendendo sua mala pesada, carregando com dificuldade e indo em direção a porta, me levantei correndo e me pus em frente a ela impedindo-a de passar. A porta fez um estrondo ao ser fechada e simplesmente meus pés haviam criado raiz ali e eu estava disposto a ficar em pé o dia todo em frente a porta se isso fosse impedir Lorena de ir embora. Lorena desviou seus olhos do meu como se sentisse dor ao me encarar. Ela agia como se eu não estivesse ali, como se não pudesse ver a minha dor.

 

– Vamos conversar, por favor. Me dá uma chance, eu juro que isso nunca mais vai acontecer. Eu sou o seu Justin, você me conhece esse sou eu Lorena. - eu dizia em meio ao desespero.

 

 

Nunca havia estado daquela forma por ninguém, mas estranhamente sentia que uma parte vital minha estava sendo tirada de mim, do meu corpo e de fato Lorena era algo vital pra mim. Mas ela não me respondia. Parecia que na minha frente só estava o seu corpo. Era como se sua alma já estivesse em outro lugar. Ela não se movimentava, ela não abria a boca nem ao menos pra me xingar, espernear ou me bater.

 

– Eu não te mereço eu sei. – falei colocando minhas mãos em seu rosto e forçando seus olhos a encontrarem o meu, mas ela abaixava o olhar para não me olhar.

 

Uma lágrima caiu vagarosamente do canto do olho esquerdo dela e ela parecia morta em minhas mãos. Seu rosto estava pálido, e sua pele fria. Seus olhos não me enxergavam mais, seus olhos não me olhavam mais, seus olhos pareciam que nunca haviam me visto. Me senti fraco e meus braços pesaram fazendo eu soltar Lorena. Ela abriu a porta pra ir embora e simplesmente meu corpo se movimentou mole dando passagem pra minha vida ir embora de mim.

Em seguida minha mãe abriu a porta e olhou para mim com tristeza. Seus olhos marejaram vendo o estado que eu estava. Com certeza ela tinha escutado tudo. Fernanda também estava em casa e vi quando ela ajudou Lorena a descer as escadas. Sentei na cama sentindo minhas pernas fraquejarem. Eu queria quebrar aquele quarto todo, mas de nada adiantaria. Minha garganta arranhava, meu ódio percorria feito sangue em minhas veias. A única coisa que pude fazer foi dar um grito de desespero e raiva que fez minha mãe se aproximar e me abraçar. Num movimento impensado, me levantei correndo e saí do quarto.

 

– Justin, onde você vai? – ouvi a voz da minha mãe preocupada.

 

Corri até a porta da minha casa e vi que Lorena havia acabado de entrar no meu carro que estava com o Ryan pra ir embora pra sua cara. Ela nem ao menos me olhou nos olhos. Perdi a conta de quantos pedidos de desculpas e juras de amor eu fiz, ela simplesmente ignorou todos. Pude sentir e ver que ela estava destruída e aquilo me corria por dentro. Fernanda estava com ele e Ryan parecia que nem tinha ido muito longe já prevendo que teria que voltar para busca-la. De longe Ryan me fitou de dentro do carro enquanto Fernanda fechava a porta traseira de onde ela e Lorena estavam sentadas. Depois de uma longa encarada para minha direção, Ryan acelerou e sumiu pela rua.

Não se ouvia mais nada, a rua estava silenciosa. Apenas senti as mãos de minha mãe me puxarem.

 

 

– Entra filho. – disse preocupada fechando a porta e me arrastando até o sofá.

– O que eu vou fazer? – falei encarando o nada.

– Dê tempo ao tempo. Ela precisa pensar. Meu amor, ela está grávida de dois filhos seus. Por que você foi fazer uma besteira dessas? – disse meio chorosa.

– Você ouviu tudo, né? – falei me virando pra ela.

– Eu me assustei com você chegando tão tarde e fui ver o que era. Me aproximei da porta de vocês e ouvi. Depois você começou a quebrar tudo, fiquei com medo, mas não quis entrar. Eu não sabia como reagir. Eu estou chateada e decepcionada com você, mas você é meu filho e eu consigo sentir sua dor, quase tocá-la. – disse chorando.

– O que eu vou fazer agora, me diz? O que eu vou fazer sem a Lorena? – falei deixando o choro tomar conta da minha voz.

 

Minha mãe apenas me abraçou e eu deitei em seu colo como se fosse uma criança perdida, mas na verdade eu me sentia como uma criança perdida.

 

Um mês depois.

 

- Eu não aguento mais fazer isso, sério. Minhas pernas estão doendo. – reclamou Willow pela décima vez.

- Vocês tem que treinar. – falei rude sem paciência.

 

Charlie bufou e Willow revirou os olhos. Elas estavam acabadas, mas eu tinha que treiná-las. Treinávamos os melhores chutes e socos e elas estavam cada dia melhor, mas cada dia mais cansadas. Treinávamos em um galpão abandonando próximo a minha casa. Ainda não havia superado Lorena, muito menos deixado de procura-la, mas Lúcio já estava juntando suas provas pra descobrir quem havia matado sua filha, segundo informações da Charlie. Eu me preocupava com a segurança de Lorena, então estava destinado a acabar com Lúcio primeiro. Mas todos os dias eu pegava meu carro e vagava pela rua de sua casa. Batia na porta, falava com sua mãe, mas nunca podia entrar. Numa atitude quase que doentia, passava horas em frente a sua casa com o carro estacionado. Apenas pra olhar pra sua janela na esperança de vê-la. Via Fernanda, Ryan e minha mãe entrando em saindo da casa dela todos os dias e eu estava ali, sem poder vê-la.

 

- Quer saber? chega! – disse Willow cortando meus pensamentos e colocando as mãos na cintura ofegante. - Na minha avaliação, eu estou ótima. Já consegui te desarmar e você disse que tenho ótima pontaria, ou seja. Já passei no teste. – disse rindo cínica.

- Tudo bem, chega por hoje mesmo. – disse tentando sorrir.

 

Ela e Charlie festejaram e saindo do galpão. Fiquei ali mais alguns minutos arrumando as coisas e colocando dentro da bolsa esportiva quando ouvi a porta ranger e passos. Me virei vendo Kimberly vir em minha direção com um sorriso malicioso. Ela não participava dos treinos porque ela já sabia tudo que deveria saber.

 

- O que você está fazendo aqui? – falei indiferente enquanto voltava a arrumar os equipamentos.

 

 

- Estava passando e resolvi ver como estão os treinos. – disse sentando na mesa de madeira.

 

- O treino já acabou, você pode ir embora então. – falei rude sem olhá-la terminando de juntar os equipamentos.

 

Meu coração apertava toda vez que eu olhava pra Kimberly, como eu me arrependia daquele dia. Queria nunca mais ela na minha frente, mas precisava dela pra concluir meus planos.

 

- Justin. – disse saltando da mesa e colocando uma mão em minha nuca. – Já se passaram semanas, ela não vai voltar. – disse com um sorriso debochado.

- Cala a boca. – falei sem expressão. – Se eu não precisasse de você, já tinha mandado você rodar.

- Ainda bem que você sabe que precisa de mim. – disse tentando juntar nossos lábios.

 

Peguei sua mão que estava na minha nuca e torci seu punho quase sentindo seus ossos quebrarem sob os meus dedos.

 

- Justin está me machucando. – ela disse chorosa, mas com raiva.

- Não encosta mais em mim e só fale comigo o necessário, eu já falei pra você que essas são minhas regras com as vadias – falei entredentes.

- Me solta, seu idiota! – disse me empurrando com força.

 

Assim que conseguiu se livrar dos meus braços, Kimberly esfregou seu pulso com força como se quisesse se livrar da dor e me encarava com ódio.

 

- Você é um idiota. Coitada da pirralha que acreditou que você podia mudar. Você sabe que a única que conhece seu lado mais podre sou eu. Lorena achava que vivia um conte de fadas, mas mal sabia que você era o logo mau – gritou.

 

Fui pra cima dela com tudo segurando seu pescoço. A raiva me possuía.

- Você não sabe nada sobre mim! Você pensa que sabe, mas você não sabe! Eu não quero você na minha casa, eu não quero você me rondando. Você é uma puta barata! E da próxima vez que você tocar no nome da Lorena, eu vou atirar na sua boca, vou arrancar seus dentes um por um e vou cortar sua língua e fazer você engolir, sua puta! - cuspi as palavras apertando sua garganta cada vez mais forte e depois a soltei jogando-a no chão.

Kimberly começou a tossir desesperadamente e seu rosto estava super vermelho. Peguei a bolsa e saí do galpão.

 

– Você age como se eu tivesse forçado a fazer alguma coisa. Coloca na sua cabeça que você quis! – gritou, mas não dei atenção.

 

Continuei andando até meu carro jogando a bolsa com os equipamentos nos bancos de traz e depois ocupando o banco do volante. Virei a chave e dei ré passando por cima da sua moto que estava estacionada ali. Meu carro chacoalhou um pouco e com certeza Kimberly não ia sair dali pilotando. Troquei as marchas e acelerei saindo daquele lugar com um sorriso debochado nos lábios. Meu celular começou a tocar depois que eu já tinha tomado uma certa distância do galpão. Olhei o visor e era minha mãe.

 

– Fala. – falei seco.

– Onde você está? – falou preocupada.

– Indo pra casa.

– Seu pai está aqui e sua irmã também.

– E daí? – falei indiferente.

– Fala direito comigo que eu sou sua mãe. – disse furiosa.

– Já estou chegando. –falei desligando.

 

Bufei já imaginando que teria que aguentar meu pai tentando me dar lição de moral, coisa que dias atrás ele tentou fazer pelo telefone, mas eu simplesmente ignorei todas as suas ligações.

 

Cheguei em casa e meus pais e Jazzy estavam sentados no sofá, ambos com cara de mosca. Passei direto subindo pro meu quarto e revirando os olhos tedioso.

 

– Onde você pensa que vai, mocinho? – ouvi minha mãe falar.

– Pro meu quarto. – falei óbvio.

– Justin... – gritou

– Deixa ele! – ouvi meu pai tentar acalmá-la.

 

A verdade é que tinha dias que eu não falava com ninguém direito. Apenas saía pra treinar as meninas, voltava, as vezes ia pra frente da casa da Lorena ou ficava no meu quarto esperando o dia acabar. Ligava insistentemente pro celular dela mesmo sabendo que daria caixa postal.

 

 

dois meses depois

 

Charlie e Willow estavam afiadíssimas, no próximo mes já poderíamos esquematizar nosso plano contra Lúcio. Eu nem via mais Kimberly, depois daquela nossa discussão, simplesmente ela sumiu. Willow mantinha contato com ela e ficou de avisar quando enfim estivéssemos prontos. Eu não sabia por onde Kimberly andava, mas na verdade aquilo não me importava. 90% do meu tempo era destinado a fingir que eu estava bem. Saía com o Ryan quase todo dia pra comer umas vadias e depois voltava pra casa. Os outros 10% eu dividia o choro e o desespero entre o banho, a hora de dormir e todos os outros momentos que eu estava sozinho.

Estava no meu escritório em mais um dia que se terminava, pelo menos as horas estavam passando rápido. Ouvi duas batidas na porta e em seguida Ryan entrou.

 

– Quer sair hoje? - disse entrando no quarto.

– Nem to afim de ver putas hoje. - falei sem saco.

– Sai dessa bad, bro. - disse me dando um empurrão no ombro.

– Voce foi na Lorena hoje? - perguntei mudando de assunto sem encará-lo. Aquilo me dava uma certa vergonha.

– Não, mas a Fernanda foi. Disse que ela está com 6 meses e com a barriga cada vez maior. - falou todo bobo.

– Preciso saber dos meus filhos... - bufei encarando o nada.

– Ela nao deixa a gente tocar no seu nome, sei lá... isso já está indo longe demais.

– O pai dela é um filho da puta. - falei amassando o papel que estava na minha frente.

– Você acha que vocês ainda vão voltar? - falou meio desconfiado.

– Como podemos voltar se ela nem ao menos me dar a chance de vê-la? - perguntei com ira.

– É, mas você errou, né... - falou meio óbvio.

 

Estalei o céu da boca me levantando na cadeira.

 

– Ei, bro, onde você vai? - perguntou me vendo sair da sala.

 

Bate a porta da casa com força desarmando o alarme do carro. Estava cansado de fingir pra todos que eu estava bem. Acelerei o carro e senti algumas lágrimas tocarem o meu rosto. Eu estava destinado a encontrar a Lorena nem que matar o pai dela. Parei o carro em frente a sua casa e com a freiada os pneus cantaram alto.

 

 

O pai de Lorena logo apareceu na janela estranhando a movimentação. Eu estava puto, tinha o cenho franzido e estava com uma arma na cintura e não exitaria em usá-la. A porta foi aberta e o pai de Lorena me encarou.

 

– Já falei pra você ficar longe da minha filha! - disse com raiva

 

O empurrei com força, nem quis saber se o cara tinha quase o triplo da minha altura. Senti o peso do seu soco em meu rosto e de repente estávamos nos atacando no quintal. Toda a raiva e angustia que eu consumi durante essas semanas com a falta de Lorena estava descontando ali agora no pai dela. Enchi a cara dele de murro e ele me acertou alguns socos que já estavam me deixando tonto.

 

– Justin, para com esse porra! – ouvi o Ryan atrás de mim.

 

Me virei vendo o carro dele atrás do meu estacionado e ele correndo em minha direção. Nessa distração levei um soco certeiro do pai da Lorena que fez alguns ossos do meu pescoço estalarem.

 

 

– Seu fedelho idiota! Como se atreve a me bater! Fique longe da minha filha! A única coisa que você terá dela será essas crianças e isso só irá acontecer porque eu não posso evitar! – disse cuspindo as palavras.

 

Ryan agora me segurava com força me arrastando até meu carro.

 

– Me solta porra! – falei com ódia sentindo minha boca espumar.

– Você quer morrer, Bieber? – disse Ryan ofegante pela força que estava fazendo pra me segurar.

 

Ryan me jogou dentro do meu carro e sua fisionomia estava estranha demais.

 

– Vai pra casa! Deixa Lorena em paz, você só está prejudicando tudo!

– Por que você me seguiu?

– Porque eu sabia que você ia fazer merda! – disse alterado.

 

Liguei o carro e dei ré para sair de onde eu estava e depois troquei as marchas e acelerei saindo da vista do Ryan. Olhei pelo retrovisor e vi ele entrando no seu carro. Uma raiva tão grande em mim, eu não sabia como eu podia carregar tanto ódio. Pra piorar esse ódio era de mim mesmo! Eu não tinha mais a mulher da minha vida, estava meses sem vê-la. Preferia morrer!

Estacionei o carro em frente a minha casa e Ryan chegou logo depois de mim.

 

– Filho? – minha mãe se levantou do sofá apressadamente quando me viu entrar em casa.

 

A preocupação dela comigo crescia cada dia mais, eu estava cada dia mais ignorante, mas distante. Cada dia eu estava menos quem eu era. Virei para ela sentindo as lágrimas quentes embaçarem minha visão.

 

– Chega! Isso já foi longe demais! – disse se aproximando. – Você precisa seguir em frente.

– Seguir em frente? – perguntei debochado forçando um riso pelo nariz. – Eu estou sem a Lorena! Eu não tenho frente! Eu não tenho norte, eu não tenho porra nenhuma! – gritei deixando o choro tomar conta da minha voz.

 

Minha mae levou a mão até a boca assustada com a minha reação e eu saí da sala entrando no meu escritório e tranquei a porta. A última vez que perdi a cabeça e fiquei desorientado assim foi quando meu pai abandonou a gente. Senti o peso do mundo nas minhas costas. Agora eu estava aqui sentindo a mesma coisa! Estava fraco, mal me reconhecia. Quando uma mulher me deixou assim? Fui até a mesa e abri as gavetas procurando onde eu havia guardado a heroína. Semanas atrás num dia de loucura eu fui atrás de uns antigos amigos que ainda trabalhavam pro Lúcio e comprei, mas não tive coragem de usar, mas os dias passavam e a raiva tomava conta de mim. Parecia que não havia sangue na minha circulação, parecia que havia raiva. Eu não respirava o ar. Eu respirava raiva. Peguei a agulha e suguei o liquido de dentro do vidrinho. Sem pensar duas vezes injetei na veia do meu braço. Senti a dormência tomar conta do meu braço.

 

 

A tanto tempo não sentia aquela sensação. Todo o meu passado foi jogado na minha frente. Tudo que corri, tudo que eu tentei deixar pra trás... estava agora aqui voltando a minha mente, ao meu presente. A droga começou a fazer efeito e um sorriso bobo brotou nos meus lábios e eu relaxei na cadeira deixando o braço pendurado. Meus batimentos e respiração foram diminuindo o ritmo. Eu ria alto, estava fora da minha realidade. Me sentia forte e bem, como se nunca tivesse sido machucado antes. Como se minha vida fosse perfeita, como se eu me sentisse completo. Via tudo mais brilhante, mais feliz. As cores saltavam. Eu não sentia saudade de nada. Estava reconstruído. Era uma euforia que dava vontade de gritar, correr. Minha risada preenchia o ambiente como se alguém me contasse a piada mais engraçada do mundo.

 

– Justin. – minha mãe bateu na porta.

– Que? – falei morgado na cadeira rindo baixo.

– Está tudo bem? – perguntou desconfiada.

– Aham. – gargalhei alto e então ela me deixou em paz. Talvez estivesse achando que eu estava feliz com alguma coisa.

 

De fato eu estava feliz. Uma felicidade momentânea que logo me traria o arrependimento e o pensamento de morte. A sensação boa foi passando e uma angústia tomou conta do meu peito. Me sentia mal, enjoado, queria gritar, estva inquieto. Eu andava de um lado para o outro! A raiva estava começando a voltar. Empurrei a mesa com força e gritei. Chutei a cadeira e puxei o armário para baixo com toda força Só se ouvia o barulho e meu grito ecoando a sala. Eu estava feito um demônio, estava incontrolável. A porta foi arrombada e meu pai entrou correndo. Minha mãe assistia tudo horrorizada com Jasmyn ao lado. Meu pai me segurou com os braços pra trás sem falar nada. Eu apenas gritava como se pudesse tirar aquela dor de mim com o grito.

 

– Meu filho. – minha mãe gritou entre o choro e Jasmyn me olhou com uma mistura de medo e tristeza.

 

Meu pai me imobilizou me jogando no sofá do escritório. Eu estava destruído. Quem eu era? O que eu estava fazendo? Nada na minha cabeça tinha um por que. Simplesmente Lorena foi embora e levou toda a minha sanidade.

Respirava ofegantemente enquanto era fitado pelos 3. Estava com vergonha de mim, estava com vergonha da minha vida. Só queria sumir, morrer... tanto faz! Não queria mais estar aqui com essa dor, com essa situação.

 

– Por que não posso ver a Lorena? – perguntei transtornado aos berros e as lágrimas escorriam sem ao menos eu perceber.

 

Minha mãe apenas chorava desesperadamente. Jazmyn estava parada, pálida ao lado de minha mãe e seus olhos marejavam. Meu pai bufava numa mistura de pena e ódio. Sem resposta, levei minhas mãos aos olhos e apoiei meus cotovelos no joelhando abaixando a cabeça. Senti a mão de meu pai tocar minhas costas. Ninguém tinha solução para o meu problema.

 

 

Três meses depois (Lorena com 7 meses depois que o Ryan visita ela)

 

- Estamos prontos. – disse pra Willow e Charlie assim que elas chegaram ao meu escritório.

– Ótimo, não aguentava mais esperar! - disse Willow revirando os olhos.

– Meu tio já tem algumas pistas de que foi você, Justin! – ele foi atrás de todos os seguranças que estavam lá naquele dia. Alguns sumiram porque sabiam que iam morrer por não terem feito a segurança de Alana direito, mas Lúcio achou aquele que desmaiou você.

– E quais são os planos de Lúcio? – perguntei sério.

– Ele quer ter certeza, ele acha que você não faria isso, infelizmente ele confia em você.

– Ele não sabe que você estava com Alana? – perguntou Wilow confusa pra Charlie.

– Não.

– Então essa é a hora. – disse concluindo já com sede de sangue.

– Avisarei a Kimberly, aquela idiota sumiu! Rolou alguma coisa com vocês? – perguntou desconfiada.

– Não. – disse seco.

 

As duas se olharam desconfiada e eu revirei os olhos.

 

– Vamos, vão embora! Já está na hora. Amanha marco com vocês pra agilizarmos tudo. – falei meio rude e as duas saíram do meu escritório.

 

A porta ainda estava aberta quando Ryan entrou logo depois que as duas saíram.

 

– Preciso falar com você! – disse de cara feia fechando a porta e se sentando na minha frente.

– Fala. – falei sem paciência.

– Fui na Lorena hoje.

– E daí? Qual parte de “eu não quero mais saber dela” você não entendeu?

– Não precisa ser ignorante, bro. – falou se irritando.

– Eu só não quero saber dela, ela não quer me ver e eu to cansado de me fuder por causa dela.

– E seus filhos? – perguntou insistente.

 

Senti meu peito rasgar. Eu já havia me torturado bastante com aquilo. Sentia vontade de morrer só de pensar que não estava vendo meus filhos crescendo na barriga de Lorena.

 

– Dude, é isso que quero que você entenda! Vocês dois se amam, só precisam conversar! Aqueles filhos são seus e quer saber? A Lorena tá pior que você. Você sai, pega mulher e agora tá se drogando que nem um cuzão. Mas ela fica naquele quarto o dia todo. Tá pálida, doente e o pai dela simplesmente enche o saco dela o dia todo. Eu olho pra vocês dois e sabe o que vejo? Vocês dois perderam a identidade de vocês. Eu nem sei mais quem vocês, são! – disse irritado.

– E o que você quer que eu faça? Você não acha que eu já tentei de tudo não? – falei debochado.

 

Aquilo ainda me cortava por dentro, mas eu tinha que me manter bem, eu tinha que manter meu foco em outra coisa.

 

– Arromba a casa dela!

– Como com aquele viado do pai dela lá?

– De madrugada, eu te ajudo. Acaba logo com aquela palhaçada.

– Não quero... não me importo mais. – falei fitando o nada.

– Então você quer que eu acreditei que você não ama mais a lorena? – perguntou debochado.

– Amo, mas pelo visto meu amor não é o suficiente pra ela.

– Então foda-se eu vou sequestrar Lorena e levar ela pra minha casa. Ela está doente e eu não aguento mais vê-la naquele estado. Se ninguém está se importando com ela.– falou se levantando.

– Como ela estava hoje? – perguntei sentindo meu coração palpitar.

– Mal, como sempre. Antes de ir eu conversei com a Fernanda e disse que ia acabar com essa porra! Você é meu amigo, vacilou pra caralho, mas eu to vendo o seu estado e to vendo o dela. Isso não é certo! O pai dela é um ignorante, ele nem vai no quarto vê-la e mãe dela parece uma mosca morta. Só sabe chorar. A única que vai la e a ajuda de alguma força é a sua mãe que a trata como filha. Fernanda sempre tenta animá-la, mas parece que Lorena morreu e esquecemos de enterrá-la.

– Ela não é feliz comigo, deixa ela lá. – falei fingindo não me importar.

– Fraco! – Ryan disse com raiva.

– O que? – perguntei confuso.

 

 

– Você é um fraco! Se ama, corre atrás.

– Como posso correr atrás se mal posso passar pela porta dela? Ela não atende meus telefonemas, não retorna as mensagens.

– Já falei que vou sequestra-la. – disse de forma ameaçadora.

– Deixa de ser idiota! Ela tá grávida, como vai sequestrar ela assim? – disse sendo grosso, porra que que esse idiota tava pensando?

– Então aja! – disse mandão. – Não aguento mais ver Lorena do jeito que ela está. Você é um idiota, não merece ela, mas ela te ama, vocês se amam então porra, foda-se o mundo e trás ela de volta pra cá.

– ELA NÃO ME QUER! ELA NÃO ME AMA MAIS! – gritei alterado me levantando da cadeira.

– ENTÃO PORQUE ELA CHOROU HOJE QUANDO FALEI SEU NOME? – Ryan gritou acompanhando meu tom de voz.

– Ela chorou? – perguntei forçando o cenho.

– Feito uma criança. – falou ainda irritado. – Mas tudo bem, fica aí se drogando, quebrando tudo e trepando com todas as vadia que aparecem na sua frente! Parece que você está feliz assim! – disse saindo do meu escritório.

 

Sentei de volta na cadeira com os pensamentos longe. Se Ryan queria me atiçar pra agir, ele havia conseguido. Eu já havia tentado de tudo, já havia desistido. Estava vivendo como um vagabundo viciado sem nome sem identidade. Quando achei que tinha controlado meus sentimentos, vem Ryan e joga tudo em cima da mesa me fazendo sentir como uma criança desnorteada mais uma vez. Lorena, cadê você aqui pra tornar minha vida mais fácil? Peguei a chave do carro em cima da mesa e mirei meu pulso vendo as horas. 20:27 horas. Foda-se, Lorena, hoje você vai me ouvir nem que eu tenha que ir no inferno e voltar. Nem que eu tenha que inventar uma máquina do tempo pra consertar meus erros, nem que eu tenha que invadir sua casa!

 

 

POV Lorena

 

Ryan já havia ido embora, resolvi tomar um banho e descer pra comer alguma coisa. Meu pai estava na sala conversando algo com minha mãe e parou assim que eu cheguei. Presumi que os dois estivessem falando de mim, mas não quis me importar. Estar grávida e morando na casa dos meus pais de novo me deixava completamente insatisfeita com a vida. Deus, o que eu fiz pra sofrer tanto? Por que me deixei levar pelo Justin? Aquele Justin que sempre foi um idiota e me ignorou na escola, por que ele agiria diferente agora? Ele simplesmente arrancou meu coração com a mão de meu peito e eu não devia me surpreender porque ele estava apenas sendo ele. Peguei uma tijela enchendo de cereal e virei um pouco de leite nela. Meus pais fingiam muito mal, namoral Estavam os dois em silencio como se não estivessem tagarelando minutos antes. Subi e sentei na minha cama devorando o cereal. Minha barriga estava enorme, quando aqueles bebes iriam nascer? Toda vez que eu parava pra pensar nisso, eu chorava. O que eu iria fazer sozinha com dois bebes? Meu pai mais uma vez me ignorava como se a culpa fosse minha de tudo ter acontecido. Antes que eu começasse a chorar meu celular começou a virar embaixo do travesseiros e eu deixei a tijela de lado pra atende-lo. Olhei o retrovisor e vi o nome de Fernanda.

– Alô?

– Já está arrumada? – perguntou Fernanda rindo.

– Não, não tente me tirar de casa de novo, ok? Você não cansa? – perguntei desanimada pegando minha tijela de volta e apoiando o celular no ombro.

– Nem pra comemorar o meu aniversário? – disse forçando uma voz triste.

– Hoje é seu aniversario? Não sabia. – falei surpresa de boca cheia.

– Se você estivesse vivendo que nem uma pessoal normal saberia que hoje é o meu aniversario, alías você sabe que dia é hoje? Ou em que mês estamos?

– Não. – falei um pouco envergonhada. Realmente o tempo havia parado pra mim

– Então vamos nos divertir um pouco hoje. Você merece. Não chamei ninguém, vai ser aqui em casa mesmo! Gil está aqui com o Lucas e o Ryan. Só a gente. Vamos ver um filme e sei lá, comer chocolate. – disse tentando me convencer.

– A rainha da balada não comemorá o aniversário rebolando? – perguntei irônica.

– Só quero estar com meus amigos, posso? As pessoas mudam! – disse rindo

– Tem certeza que só essas pessoas estarão aí? – perguntei me referindo aquele que eu não queria dizer o nome.

– Tenho. – ela disse com a voz manhosa.

– Ok, vou me arrumar. – falei um pouco mais animada.

– Ai que bom! Beijo amiga – disse desligando.

 

Ainda não me sentia bem, mas Fernanda tem sido tão boa pra mim nesses meses de depressão, que não achei certo não estar no seu aniversário.

Me levantei e me encarei no espelho. Eu estava horrorosa. Haviam duas olheiras enormes em volta dos meus olhos e eu estava mais inchada que o normal. Minha barriga estava enorme, parecia que eu ia explodir a qualquer momento. Tomei um banho, sequei meu cabelo, coloquei minha roupa e fez uma make pra disfarçar aquela cara horrível que eu estava. Me encarei no final de tudo no espelho e agora sim eu estava bem. Mesmo que só por fora. Peguei minha bolsa e saí do quarto.

 

– Onde você vai? – minha mãe quis saber assim que me viu chegar na sala. Parecia feliz por me ver enfim fora do quarto. Meu pai me olhou desconfiado.

– Aniversário da Fernanda!

– Hum, tá. Se divirta. – disse se levantando e me dando um beijo na testa.

– O Justin vai estar lá? – meu pai perguntei rudemente.

 

Ouvi o nome dele sem estar preparada era horrível, sentia uma faca ser enfiada no meu peito, mas respirei fundo.

 

– Não! Já vou indo.- falei abrindo a porta.

 

Fiz sinal pro primeiro taxi que passou e assim que cheguei no prédio de Fernanda meu coração apertou. Subi as escadas com dificuldade e toquei sua campainha. Ryan abriu a porta com um sorriso largo nos lábios.

 

– Que bom que você saiu daquela caverna! – disse me abraçando.

 

Sorri e quando ele me soltou olhei em volta e não vi ninguém.

– Cadê todo mundo? – perguntei adentrando mais na casa;

– Estão chegando. Fernanda está no quarto. – disse meio inseguro, parecia me esconder alguma coisa.

 

Deixei minha bolsa na sala e fui até seu quarto. Ryan acompanhou meus passos com o olhar. Abri a porta devagar do quarto de Fernanda chamando por seu nome pois de imediato não vi ninguém. A porta atrás de mim se fechou com força como se um vento tivesse a empurrado e da varanda do quarto de Fernanda vi alguém se mexer. Olhei de cima pra baixo encontrando o rosto de Justin tão abalado quanto o meu. Não havia festa alguma, eles armaram pra mim! Meu coração se apertou e minhas pernas não se mexiam. Justin estava parado olhando pra mim com uma expressão de dor. Minha cabeça girou e me senti num sonho que eu não conseguia acordar. Senti uma dor profunda e as lágrimas se formaram em meus olhos. A quanto tempo eu não o via? E mesmo assim meu coração batia por ele como se nunca estivéssemos sido quebrados, como se não houvesse erro algum entre nós. Justin deu um passo de cada vez se aproximando cada vez mais próximo de mim. Percebia que aquilo era tão difícil pra ele quanto era pra mim. Minhas pernas bambearam, eu sabia que tinha que sair dali, mas não conseguia.

 

 

Tópico: Fall

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Karol Drew | 05/08/2014

Mds, justin, vacila com a menina certa, que a errada te mostra como doi ;) '-' af vei ._. :v RAIVA.

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