Quando O Assunto é a Lorena

 

POV Justin

A claridade já estava irritando meus olhos antes mesmo de eu conseguir abri-los. Por um segundo pensei que estivesse em casa, mas logo aquele cheiro de éter preencheu minhas narinas me recordando de que eu estava no hospital. Abri os olhos calmamente enxergando uma enfermeira ao lado da cama enquanto anotava alguma coisa em sua prancheta. Cocei os olhos um pouco mole ainda.

 

– Que horas são? – perguntei com a voz rouca.

– 11:47. – respondeu com um sorriso olhando o relógio em seu pulso.

– E quando vocês vão começar a fazer esses exames? – perguntei me ajeitando na cama.

– Já fizemos. – sorriu. – Desculpa, senhor Bieber, mas o seu sono é tão pesado que o senhor nem ao menos sentiu as agulhadas durante a madrugada. – falou tímida e eu me assustei encarando meu braço e reconhecendo os pequenos pontinhos vermelhos que indicavam a retirada de sangue.

 

Ri pelo nariz e ela sorriu também enquanto negava com a cabeça e voltava a escrever em sua prancheta.

 

– Então o transplante já pode ser feito? – perguntei me levantando. Na moral, eu devia estar ridículo pra caralho com aquela roupa de hospital.

– Em algumas horas. Faltam os resultados de alguns outros exames e então o médico irá ver você.

– E eu vou ficar nesse quarto até ele decidir vir aqui? – perguntei um pouco irritado.

– Não, você não precisa ficar aqui, pode ir lá ver a Cindy. – disse com um sorriso sabendo que iria me alegrar.

– Ela está acordada? – perguntei feliz e o sorriso brotou em meus lábios.

– E falante! – enfatizou rindo.

 

Entrei no banheiro tirando aquela roupa ridícula e tomei um banho pra tirar a moleza do corpo. Lorena não saía da minha cabeça. Parecia que tudo que havia acontecido na noite passada não passava de uma alucinação da minha cabeça, mas eu não seria tão criativo a ponto de imaginar seu corpo com todas aquelas formas perfeitas tão cheio de detalhes em minha mente. Ainda sentia sua pele na minha e parecia que seu cheiro estava impregnado em mim. Eu sabia que Lúcio ainda estava solto, sabia que meus filhos podiam estar correndo perigo em casa apesar de todos os capangas que coloquei pra rodear aquela porra toda e também sabia que estava prestes a fazer um transplante importante que salvaria minha filha, mas nada disso me deixava com medo ou apreensivo. Com Lorena, tudo parecia que correria bem.

Saí do banheiro e minhas roupas da noite anterior estavam dobradas em cima de um pequeno armário do banheiro. Eram as únicas que eu tinha ali. Dei de ombros vestindo-as e percebendo que o perfume da Lorena estava muito mais forte agora que eu havia vestido a blusa. Sorri com aquilo enquanto passava os dedos no cabelo numa tentava de ajeita-los, mas logo desisti. Saí do banheiro e a enfermeira não estava mais no quarto, mas a cama já estava arrumada. Saí do quarto e logo quando fechei as portas já podia ouvir as risadas de Cindy vindo do quarto dela que ficava próximo do meu. Andei até lá já sorrindo só de ouvir sua risada e assim que abri a porta do seu quarto, dei de cara com a minha mãe brincando com a Cindy com uma espécie de cachorro robô enquanto Kimberly e Ryan assistiam tudo do sofá do quarto.

 

– Mãe? – perguntei confuso, mas gostando daquela cena.

 

Ela se virou dando um sorriso fraco e eu fitei Ryan que parecia apreensivo sacudindo suas pernas.

 

– Papai! – Cindy gritou e eu entrei no quarto fechando a porta e me aproximei de sua cama dando um beijo em sua testa.

– Como você está, princesa? – perguntei no automático sem dar muita atenção a sua resposta, ainda me perguntava o que minha mãe estava fazendo ali. – O que você está fazendo aqui? – perguntei pra minha mãe rindo pelo nariz e ela não me encarou nos olhos.

– Não posso conhecer minha neta? – disse forçando um sorriso sem me encarar enquanto acarinhava a testa da Cindy.

 

 

– Não sabia que vocês vinham hoje. – falei desconfiado.

– Decidi hoje de manhã. – falou com um sorriso amarelo enquanto finalmente me olhava.

 

Aqueles olhos... minha mãe não era uma boa atriz e uma coisa que sempre gostei nela era sua sinceridade e sua transparência. Se ela estava irritada, você sabia que ela estava irritada, se ela estava triste, você sabia que ela estava triste, se ela estava feliz você sabia que ela estava feliz e naquele momento eu arriscaria em dizer que ela estava preocupada e triste ao mesmo tempo. Analisei sua expressão e ela virou o rosto encarando Cindy mais uma vez. Olhei pro Ryan com superioridade. Eu havia mandado ele buscar Lorena, só me faltava dizer que alguma merda havia acontecido. Ryan me olhou de volta com uma cara nada boa e eu apenas sacudi a cabeça pro lado como se mandasse ele sair e saí do quarto escutando ele se levantar do sofá e vir atrás de mim.

 

– Desembucha. – falei cruzando os braços em frente ao meu peito enquanto olhava ele sério.

– O que? – perguntou tentando disfarçar.

– Não enrola, cara... você está com essa cara de cú e minha mãe está estranho. Qual o problema?

– Nada, cara. Você está viajando. – disse forçando um sorriso e colocando uma de suas mãos em meu ombro.

– Você acha que eu não conheço vocês dois bem, porra? Eu vi você crescer, eu vi essa merda dessa cara que você tá fazendo agora em toda a minha vida e minha mãe, aquela dali não consegue disfarçar! Então anda logo, qual o problema? Cadê a Lorena? – repeti falando firme.

– Tá em casa com as crianças. – falou dando de ombros e soltando a mão de meu ombro.

 

Ergui minha cabeça analisando sua expressão. Eu sabia que alguma merda havia acontecido.

 

– Que foi, porra? Vai ficar me olhando que nem um viado querendo me comer? – perguntou se irritando.

 

Eu ia começar a enchê-lo de perguntas quando ouvi a porta sendo aberta e minha mãe saiu do quarto com aquele sorriso forçado ainda nos lábios. Aquela cena toda já estava me irritando.

 

– O que está acontecendo, meninos? – perguntou numa voz serena.

– Tem alguma merda acontecendo e vocês estão me escondendo. – falei afirmando com a cabeça vagarosamente enquanto olhava os dois.

– Por que você acha, filho? Está tudo bem. Eu só estou um pouco preocupada com esse transplante. – disse se aproximando e segurando minhas bochechas.

– É, amigos também se preocupam. – disse Ryan com deboche.

– Por que será que eu não consigo acreditar em você? – falei me virando pra ele.

 

Ryan fez uma careta como se me chamasse de mongol e minha mãe se intrometeu.

 

– Hey, parem com isso. Justin, está tudo bem, ok? Eu só estou preocupada e apreensiva com tudo isso. É tudo muito recente e hoje você já fará esse transplante. O médico estava conversando comigo um pouco antes de você acordar e disse que a retirada da medula óssea é algo bem complicado de se fazer. – disse séria.

– Relaxa, coroa. Vai ficar tudo bem. Já viu o gostosão aqui ficar debilitado alguma vez? – falei falando graça e ela riu.

– Muitas vezes. – respondeu.

– Tá. – me dei por vencido e Ryan riu. – Mas nada vai dar errado e vocês dois podem ficar despreocupado. Você principalmente, Ryan. Isso foi estranho pra caralho. – falei fazendo uma careta.

– Já mandei você ir se fuder hoje? – perguntou arqueando uma sobrancelha e eu ri com deboche.

 

Ouvi a vozinha da Cindy me chamando e abri a porta deixando os dois lá no corredor. Entrei no quarto e ela estava com os braços cruzados e me olhava sério enquanto a Kimberly ria daquela cena.

 

– Papai, onde você foi? – perguntou toda bravinha e eu ri pegando-a no colo.

 

 

POV Ryan

 

– Se você não aparecesse, era capaz de eu falar tudo. – falei tirando o peso das minhas costas assim que Justin voltou pro quarto.

– Ele não pode saber disso agora. Ele precisa fazer esse transplante e se ele souber, ele vai ficar apreensivo até esse transplante e capaz de alguma coisa ruim acontecer. Deus me livre. Mas está doendo ver meu filho tão feliz sem ao menos saber que Lorena se foi. – falou e seus olhos marejaram.

– Eu já rodei tudo nessa madrugada, mas eu não achei nada. Separei os homens, cada um foi pra um lado, mas parece que até agora nada. Os capangas ainda estão atrás do carro, mas não tem nenhuma pista, nenhum indício e eu não tenho a menor ideia pra onde eles devem ter ido. – falei já sentindo a raiva me consumir outra vez. Eu não sabia quem era mais desmiolado: Lorena ou Chaz.

– Meu filho não merece isso. Eu estou aqui, estou tentando ficar bem, mas só de pensar que eu voltar pra casa e não vou ver meus netos... isso me mata. – falou abaixando a cabeça e chorando. Ver Pattie naquele estado mexeu mais ainda com meu emocional.

– Calma, Pattie. Eles não devem ter ido muito longe. – falei tentando reconforta-la, mas por um segundo me perguntei se eu estava na verdade tentando me convencer daquilo.

– Você não viu o estado dela, Ryan. Ela estava com muito ódio! E logo de mim que sempre fiz tudo por ela e por essas crianças. – falou com a voz engasgada na garganta.

– Eu estava indo buscar ela como o Justin pediu. No meio do caminho eu liguei e ela logo perguntou se o Justin tinha outra filha. Na hora eu parei e fiquei sem reação, o Justin não tinha me avisado se tinha contado ou não.

– E como ela sabia disso? Como ela soube dessa situação toda? – perguntou confusa.

– Uns homens disseram que viram um cara pulando o muro da casa de vocês, mas não tem certeza que era o Chaz, mas eles afirmaram que o Chaz tinha tentado passar pelo portão um pouco antes.

– Então é óbvio que era o Chaz. – disse se assustando. – Ele invadiu minha casa? Meu Deus! E as crianças lá! Ele poderia ter feito alguma coisa com elas. – disse levando uma mão a cabeça.

– Mas o que ele queria? Isso que eu me pergunto? – falei com ódio. – Sabe o que é estranho? O Justin estava com a Lorena e onde Chaz estava esse tempo todo? – falei sem entender.

– Deve ter sido nesse meio tempo que ele foi lá em casa. Ele com certeza não sabia que o Justin estava com a Lorena. – disse preocupada.

– Mas o que essa merda queria lá, cara? – perguntei com a cabeça em parafusos.

– Eu não sei, mas só de pensar que ele esteve lá e ninguém percebeu, já me dá arrepios.

– O Justin vai matar esses incompetentes quando souber. – falei negando com a cabeça.

– Não me fala em mortes, Ryan pelo amor de Deus! Vai atrás da Lorena, faz alguma coisa! – falou se alterando.

– Não tenho mais onde procurar, Pattie. Só o Justin vai saber como agir. Eu vou deixar os homens vasculhando tudo por enquanto, mas eu mesmo tô perdidão aqui. – falei me sentindo um idiota.

– Ai meu Deus... – disse nervosa e as lágrimas escorriam.

– Vamos ficar calmos. – falei sentindo que aquela frase ficaria completamente avulsa ali. Ninguém queria ficar calmo, muito menos eu.

– Ela podia ir embora, ela podia ser feliz com outra pessoa, mas ela não poderia jamais tirar meus netos de mim e dele, Ryan. – falou se desesperando.

– Pattie, se acalma. Daqui a pouco o Justin sai e não vai dar mais pra esconder. – falei preocupado e Pattie respirou fundo se recompondo.

– Ontem eu liguei pro Jeremy e contei tudo pra ele, eu não estou aguentando esse peso sozinha. Eu não vou aguentar ver o estado do meu filho, eu já estou esperando o pior. – falou se sentando em um banco próximo.

– O que o Jeremy disse?

– Ele tá vindo pra cá com a Jazmyn, mas e já falei que só vamos contar tudo depois do transplante.

– Talvez ele saiba o que fazer. – falei sentando do seu lado e encarando o nada assim como ela.

– Não. – disse Pattie sorrindo pelo nariz completamente sem humor. – Quando o assunto é a Lorena, só o Justin sabe o fazer. – concluiu com um olhar perdido e eu me calei.

 

 

 

 

 

Tópico: Quando O Assunto é a Lorena

-

Karol drew | 11/08/2014

....... What? '-'

Itens: 1 - 1 de 1

Novo comentário