Não Faço Questão de Ser Alguma Coisa Pra Você

 

POV Kimberly


 

As minhas mãos suavam, meu corpo se arrepiava em resposta ao meu temor e minha voz simplesmente estava entalada em minha garganta. Justin manteve a expressão confusa enquanto analisava o meu estado.


– O que aconteceu? - insistiu com a testa franzida e um tom preocupado.

– Eu... - pigarriei forçando a voz a sair, mesmo que falha e ele esperou eu concluir atencioso. - ...fui assaltada. - conclui derrotada soltando o ar.


Fraca. Mil vezes fraca. Como era difícil olhar para esses olhos e me livrar de minha capa protetora para lhe dizer a verdade. Como era difícil pedir ajuda para ele. Como era difícil qualquer coisa que envolvia ele na minha vida.


– Fizeram alguma coisa com você? - perguntou preocupado analisando meu corpo a procura de alguma evidência.

– Não. - respondi fraco me afastando sentindo meu peito apertar. Por que eu simplesmente não conseguia lhe dizer a verdade?

– E do jeito que eu te conheço, por que não matou eles? - perguntou desconfiado.

– Eu estava sem arma. - respondi rápido. - E eram muitos, acabaram levando minha moto.

– O que você tá fazendo aqui a essa hora também porra? Virou suicida? - perguntou alterado se irritando.

– Eu estava voltando de uma festa. - dei de ombros sem encará-lo.


Como estava sendo péssimo mentir daquele jeito. Me sentia mal, ela não merecia isso. Ela merecia que eu esquecesse meu orgulho pelo menos uma vez, mas eu não conseguia. Simplesmente não conseguia. Eu estava um caco por dentro.


– Vem. - disse segurando meu braço de um jeito firme depois de um breve silêncio. - Vou te levar pra casa. - concluiu me puxando.

– Não precisa. - falei tirando meu braço de sua mão e começando a secar as lágrimas com as mangas do casaco largo.

– Como não? Tá bêbada? Não tem como você voltar sozinha a essa hora! - gritou estressado.

– Eu dou meu jeito. - dei de ombros com a voz fanha por causa do choro.


Ouvi sua respiração ficar pesada e me olhou como se quisesse me matar.


– Pra que me chamou até aqui então, porra? - gritou me assustando.

– Eu estava assustada, ok? - acompanhei seu tom de voz.


Seus olhos me analisavam, ele sabia que ele notava meu nervosismo e eu estava me embolando nas minhas próprias mentiras. Não queria ir embora, não queria deixá-la sozinha. O chamei aqui no intuito de contar-lhe a verdade, mas eu sempre soube que eu jamais conseguiria aquilo. Ele apenas virou as costas de forma despreocupada como se não se importasse com as baboseiras que eu estava falando, como se ele tivesse certeza que eu iria entrar no carro e ir embora com ele. Justin deu a volta no carro e abriu a porta do motorista com uma expressão séria. Se jogou no banco atravessando o cinto em seu corpo e abriu a porta do carona esperando que eu entrasse. Meu coração apertou. O vento frio batia forte em meu rosto balançando os meus cabelos enquanto eu olhava em direção ao hospital. Caminhei depois de alguns segundos até o carro. Entrei sem encará-lo e ele rodou a chave tomando partida assim que fechei a porta.


– Obrigada. - murmurei com a voz rouca, mas ele não se moveu. Matinha a expressão séria e preocupada e agora já estava claro que aquilo não era por causa de mim.


Que raiva! Por que eu estava nesse carro? Tudo que eu fazia referente a ele eu já fazia arrependida. Daqui a alguns dias eu estaria me socando ao lembrar-me dessa cena. Meus pensamentos confusos não me davam a solução. Precisava dela comigo, só isso. Precisava dela viva!


– Vou te levar pra minha casa, lá eu peço pra alguém te levar pra casa! Não estou com cabeça. - disse encarando a estrada depois de alguns minutos em silêncio, cortando meus turbilhões de pensamentos.

– Uma discussão com a pirralha era tudo o que eu precisava pra fechar minha noite. - bufei irônica.

– Ela não está lá. - disse tentando escondendo uma certa tristeza.

– Não? - perguntei alto m pouco surpresa surpresa.

– Não. - murmurou ainda fitando a estrada.

– O que aconteceu? - perguntei o deixando notar minha curiosidade.

– A gente discutiu... - falou de forma pesada.

– E ela foi pra casa da mãe? - falei tentando adivinhar já que ele havia se calado.

– Não...

– Casa do Ryan? - tentei num tom confuso.

– Não, Kimberly! - disse irritado. - Ela está no hospital!

– Nossa, essa garota é muito fresca, que tédio! Bem tipinho dela fingir que está passando mal pra fugir de uma discussão. - falei com uma certa repulsa.

– Ela está lá por causa de mim, não por causa dela! - disse furioso defendendo-a.

– Sua culpa? Nossa, você realmente mudou muito! Não consegue nem admitir que a garota é uma fresca!

– Kimberly, ela está lá porque a enforquei até ela desmaiar! – gritou descontando a raiva em mim.

– Você o que? - perguntei sem acreditar.


Ele apenas voltou a encarar a estrada escura com a fisionomia de irritação.


– Eu não tô acreditando que você fez isso. - falei deixando escapar um sorriso.

– Qual a graça? - disse parando o carro.


Eu nem ao menos havia notado que já estávamos perto de sua casa. Também, com a velocidade que ele dirigiu aquilo nem me surpreendeu muito. Justin saiu do carro batendo a porta e eu fiz o mesmo. Foi na frente sem me esperar pisando firme. Entrei em sua casa pela porta que ele havia deixado aberta ao entrar em casa e ele já estava jogado no sofá com a expressão derrotada enquanto encarava o chão. Fechei a porta atrás de mim enquanto observava aquela cena. Não podia negar que eu me importava com o Justin. A verdade é que eu ainda o amava, mas isso era algo que eu jamais conseguia admitir. Os anos passaram, mas uma parte de nós dois ainda continuava comigo. Mas eu nunca fui nada em suas mãos, muito menos em seu coração. Eu tinha que ir embora, alguém esperava por mim, minha vida simplesmente acabara de entrar na contramão e meus pés se cravaram no chão naquele instante enquanto eu fitava o Justin, como se eu não houvesse mais nada com o que me preocupar. Mesmo com os meus problemas, estava impossível ir embora e deixá-lo ali com aquela expressão sem vida. Odiava esse efeito que ele tinha em mim.



– Quer conversar? - perguntei me aproximando com cautela.

– Não sei, não sei o que eu fiz, não sei o que aconteceu, não sei o que deu em mim... - disse apoiando sua testa nas mãos.

– No mínimo ela te irritou bastante. - dei de ombros sentando do seu lado.

– Não foi isso... - disse fraco. - O Chaz apareceu aqui e eu perdi a cabeça.

– Chaz? - perguntei achando que havia entendido errado.


Ele assentiu e vi seu punho fechar com raiva.


– Mas como? O que ele veio fazer aqui? - perguntei alterada. Pensei que esse mané fosse se esconder do Justin pra sempre.

– Ele voltou a rondar e Lorena parece que não lembra o que ele fez, simplesmente o perdoou.

– Essa pirralha é muito sem noção mesmo! - falei irritada me levantando e começando a andar inquieta pela sala. - Ela não percebe que ele não é confiável? A Alana o manipulou que nem um cachorrinho dizendo que ia fazer você voltar pra ela e assim a pirralha ficaria livre pra ele.

– Esse foi o trato? – perguntou forçando o cenho olhando pra mim, finalmente.

– Sim, só que então na hora ela disse que mataria vocês dois, mudando todo o plano, na hora ele não concordou, mas mesmo assim obedeceu ela quando ela mandou jogar seu corpo na piscina.

– Nem me lembre disso mais do que eu já costumo lembro. Eu tenho tanta raiva desse babaca, que você não pode nem imaginar! Nos conhecemos desde pequenos, como ele teve coragem?

– Você roubou o amor dele. - falei debochada e ele me fuzilou. - Enfim, quem garante que agora ele não está com o Lucio? Essa garota acha que esta vivendo um conto? Então avisa pra ela que até a Chapeuzinho Vermelho deu de cara com o lobo mau que fingiu ser o que não era. - falei estressada. - Essa garota é muito lesada, não tenho disposição pra aguentar tanta infantilidade como você tem pra aguentá-la, sinceramente. – falei com desdém.

– Preciso tomar um banho e voltar pro hospital. - disse se levantando enquanto ignorava as minhas verdades.

– Justin. - falei parando seu corpo com uma mão espalmada em seu peito. - Se essa garota foder com os nossos planos, eu entrego sua cabeça pro Lucio sem piedade. Eu preciso matar Alana e Lucio não pode desconfiar. Eu preciso acabar com essa merda e sumir porque minha vida não pode depender mais de você e das furadas que você me coloca. - disse séria enquanto seus olhos me analisavam com uma expressão séria.


Depois de uma longa olhada Justin finalmente soltou o ar de forma pesada.


– Tá. - falou fraco como se aquela mísera palavra pesasse mil quilos. – Quando for embora, pede o Willys levar você em casa, ele fica lá perto da portaria. - disse meio lesado se desviando de mim enquanto subia as escadas



Parecia estar em outra órbita. Odiava quando ele colocava tudo a perder por causa da Lorena, odiava como ela tinha o controle do seu humor. Justin parecia apenas um ventrículo controlado pelas insanidades da Lorena. Por que ele nunca foi capaz de ter o respeito que tem por ela por mim? O que essa garota tinha a ponto de mudar um cara que nunca quis mudar por mim? Assisti ele ubir as escadas e meu coração apertou. Segurei a lágrima e sufoquei o choro. Saí pela porta indo em direção ao portão da casa. Eu só tinha que me focar nela, apenas nela. Não podia deixar Justin confundir minha mente. Não tinha mais condições pra deixar isso acontecer.



POV Justin


Era tanta coisa a se pensar que eu não estava conseguindo pensar em nada. Terminei meu banho quente e a porta de correr do box estava embaçada. Enrolei uma toalha branca na cintura e saí do banheiro da suíte em direção ao closet. Tirei a toalha da cintura e comecei a secar o cabelo enquanto jogava uma roupa na cama. Me vesti rápido, coloquei um supra e passei os dedos no cabelo tentando arrumá-los, mas não me preocupei muito com isso. Peguei as chaves e saí do quarto. Já estava quase amanhecendo, vi pela janela do corredor. Fui até o quarto dos bebês, mas não entrei para não acordá-los, apenas coloquei a cabeça pra dentro do quarto e vi os dois dormindo. Sorri pra mim mesmo e então fechei a porta tentando não fazer barulho. Andei até a escada e comecei a descê-la com rapidez, queria logo ver Lorena e pedir desculpas mesmo sabendo que o que eu tinha feito era algo sem perdão. Levei um pequeno susto quando encontrei meu pai na sala. Tentei ignorá-lo, mas parecia que ele estava ali me esperando.


– Aonde você vai? - perguntou rude.

– Não interessa. - dei de ombros indo até a porta.

– Senta aí! - disse autoritário sentando em um dos sofá, mas tentando manter a calma.


Ele me olhava sério, com uma autoridade de pai. O encarei com a mão na maçaneta.


– Não, obrigada. - respondi cínico saindo pela porta.



Já estava no jardim quase perto do meu carro quando ouvi passos corridos atrás de mim e quando me virei, apenas senti o peso do seu soco nas minhas costas. Tentei segurar seus braços, mas meu pai era mil vezes mais forte que eu. Senti um soco em meu queixo e me desequilibrei, não estava conseguindo reagir por não estar esperando por aquilo.


– Que porra é essa? – perguntei já no chão passando a mão no queixo.

– Vem cá , seu moleque! – disse completamente alterado me puxando pelo pescoço.


Me arrastou até o meu escritório enquanto eu tentava em vão me livrar de seus braços. Me jogou no sofá de couro que ali tinha e eu caí meio torto. Meu pai começou a andar de um lado pro outro com uma raiva nitidamente aparente.


– Por onde posso começar? – disse com um sorriso sarcástico. – Eu sou a porra do seu pai, você tem que me respeitar. É seria uma boa começar por aí! – disse cuspindo as palavras olhando pra mim.

– Você acha mesmo que merece o meu respeito? – perguntei debochado.

–Só fale quando eu mandar. – disse erguendo um dedo indicador. Parecia uma fera tentando controlar todo o seu impulso. Se ele decidisse me matar, ele poderia fazer isso em três segundos. – Você faz da sua vida o que você quiser! Bandidinho, drogadinho, tudo mais que você quiser ser, mas saiba que pra mim você sempre será um moleque!

– Não faço questão de ser alguma coisa pra você. – falei áspero e levei um soco certeiro no maxilar que fez que meu corpo todo tombasse mais ainda no sofá.

– O que você fez com a Lorena, eu espero imensamente que não se repita. – falou debochado com uma raiva transbordante. – Ou você sentirá a minha mãe te enforcando! – gritou segurando o meu pescoço com ódio e eu soquei seu rosto fazendo ele me soltar e me levantei com ira.

– Você não é porra nenhuma! Você abandonou sua família! O que você tem pra me dizer? O que tem aí no seu caderno de anotações da vida pra me dizer como lição? Você não passa de um merda! – gritei cuspindo as palavras e ele veio pra cima de mim.


Nos embolamos no meio do escritório, eu tentava acertar alguns socos em sua barriga, mas meu pai sabia todos os golpes de rua e eu estava levando a pior. Senti meu braço se contorcer enquanto suas mãos me seguravam firmes.


– Me solta porra! – gritei e minha garganta arranhava. Já estava com a porra do corpo todo dolorido.


Meu pai me jogou no chão com força e foi até a mesa abrindo todas as gavetas até que achou o que queria e começou a jogar em mim as seringas que tinham ali, alguns vidrinhos e os saquinhos do pouco pó que restava.


– Usa essa merda agora, usa! – disse voltando pra mim e esfregando minha cara nas coisas que estavam no chão. – Vai seu viciado, você não é o fodão que bate em mulher quando tá dopado? Então vai, usa essa merda. – disse arrastando meu rosto com mais força.

– Me solta. – falei abafado me sentindo humilhado e extremamente puto.


Com força, senti sua mão me levantarem pela camisa e ele me jogou no sofá mais uma vez fazendo meu corpo tombar com força em cima do couro.


– Faz isso de novo, moleque! Faz isso de novo que eu te entrego pra polícia! – disse aos berros perto de mim e eu abaixei minha cabeça sentindo a raiva me dominar. – Vai pro seu quarto, você não vai sair. – disse me puxando mais uma vez e me empurrando pra fora do escritório.

– Eu vou ver a Lorena! – gritei me debatendo em seus braços.

– Não, você não vai! – disse bruto me arrastando pela escada.

– Me solta, porra! Eu não sou um moleque! Você não pode mais me tratar assim! Eu perdi o respeito por você desde o dia que você saiu por aquela porta. – falei sentindo a garganta queimar.


Meu braço estava retorcido e meu pai me carregava até o quarto sem muita dificuldade. Chutou a porta com força e me jogou na cama com brutalidade. Caí na cama e o olhei com ira enquanto observava ele relaxar os ombros com as mãos na cintura.



– É preferível você abandonar sua família simplesmente por saber que você não é bom suficiente pra ela, do que permanecer aqui e tentar matar sua própria mulher. – disse com escárnio enquanto sua voz saía num tom completamente enojado.


Ouvi a porta sendo fechada com força e um silêncio reinou. Parecia que havia um corpo vertical em meu peito. Aquilo doía pra caralho. Era pior do que dor carnal, era pior do que qualquer coisa. Não tinha forças, apenas deixei meu corpo tombar na cama. Ele estava certo, completamente certo. Tudo que eu sempre falei que não era, eu simplesmente havia me tornado. Eu era um monstro. Tentei matar minha própria mulher, pra que? As lágrimas desceram quentes, meu corpo estava quebrado. Todos os meus músculos doíam. Permaneci na cama sem conseguir me mover. Aquilo tudo estava doendo pra caralho. Meu pai não era o cara mais certo do mundo, mas com certeza eu também não era.


Tópico: Não Faço Questão de Ser Alguma Coisa Pra Você

chorei

Mario | 18/09/2013

Senti uma ponta de dó do justin, mas ele mereceu! Fiquei com uma puta raiva quando ele deixou a lorena no hospital pra socorrer a kimberly! como assim? ele quase mata a propria mulher e vai atras da outra? pqp! eu acho que a kimberly tem uma filha com justin, se isso aconteceu, vou explodir de raiva! To amando ler

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